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O SABER DO BARQUEIRO

Para me ENSINAR a respeitar opiniões alheias, ou seja, acatá-las sem questioná-las, ainda que incoerentes e contraditórias, um amigo me contou a seguinte história:

Um médico e uma professora faziam a travessia de um caudaloso rio, em canoa conduzida por um barqueiro. A certa altura, o médico perguntou ao barqueiro se ele sabia que possuía deltóides muito fortes e este respondeu que não sabia nem a que o outro se referia. O médico sorriu para a professora que, em seguida, perguntou se o barqueiro sabia soletrar a palavra deltóide. O barqueiro respondeu que não e os passageiros do bote se entreolharam significativamente... Mais adiante um vagalhão atingiu a barca, que emborcou e atirou seus passageiros nas águas profundas do rio. E, enquanto médico e professora pediam socorro e se debatiam na correnteza, o barqueiro perguntou se eles não sabiam nadar. Como afundaram sem responder, o barqueiro persignou-se e, em seguida afastou-se dando largas e vigorosas braçadas, rumo a terra firme.

Sem dúvida, esta fábula me fez meditar sobre os preconceitos que impedem as arrogantes pessoas de se irmanarem em relações cooperativas, pacíficas e fraternas, porque o saber especializado e presumido as levou a posicionamentos vaidosos.

Para se ADAPTAR no meio geográfico e social, todos APRENDEM algum saber prático e teórico, genérico ou especializado, correto ou equivocado sobre medicina, condução de barcas, pedagogia etc., cada qual tendo seu lugar e hora de aplicação; o de médico na atividade curativa, o de barqueiro na condução do bote, o de professora na sala de aula, etc. O problema é que muita gente, por ter prestígio social, assim como jogador indisciplinado de futebol, cantor drogado, médico, juiz de direito, entre outros, começa a se julgar MAIS do que os não tão prestigiados. A arrogância, lamentavelmente é sentimento disponível a TODOS, porque resulta não de uma grandeza espiritual real, mas da vocação típica dos animais irracionais sociais e territoriais, que persiste enquanto resquício psicológico do nosso passado evolutivo.

As políticas de inclusão social visam justamente vencer as barreiras criadas por essa tendência psicológica, favorecedora dos preconceitos nos níveis étnicos e culturais. Porém, é na certeza de ser dotada de um saber superior a outros, que a pessoa procura “conscientizar” ou ENSINAR inclusão a outra, e até contar a história do barqueiro. Paradoxalmente, então, pode-se propor conduta compatível com um saber superior para ENSINAR que todos possuem saber merecedor de IGUAL respeito. Aí, aquele aluno bronco, formado nas altas rodas de fumo e nas esquinas da malandragem, quer ser respeitado em suas arrogantes opiniões, contra o ensino que tenta lhe ministrar o professor.

Ora, devemos concordar que, a política de inclusão social e de igualdade de direitos entre os homens, deve vir a ser praticada amplamente, pois NENHUM saber EFICAZ para uma melhor existência individual e coletiva deve ser desprezado. E, assim como a água só pode fluir de um nível superior para o inferior, também os preconceitos só serão superados pelo desejo de APRENDER conceitos de um saber de nível superior. Mas, nenhum discípulo irá querer APRENDER coisa alguma se achar que não existem conhecimentos superiores aos seus.

Por outro lado, qual o valor de se saber cultivar ostras quando a necessidade imediata é a de socorrer um paciente vitimado por um infarto? Se um de nós fosse o paciente, certamente não iria gostar de ver alguém atrapalhando o esforço de um médico socorrista, com sugestões sobre o cultivo saudável de ostras. Fica evidente que em tal ocasião esse saber não precisa e nem deve ser respeitado (acatado). Tudo indica que cada saber tem seu lugar e hora para se manifestar, e quando alguém nos diz que todo saber tem o mesmo valor, sem especificar o contexto e a situação onde a assertiva poderia ser admitida, está querendo promover IGNORANTE metido à besta a status superior.

Esse tipo de discurso cria polêmicos agressivos e inconvenientes apresentadores de “achos e opiniões” em assuntos para os quais estão totalmente despreparados. Melhor seria que se pedisse RESPEITO apenas a argumentos ponderados em DIÁLOGOS pacíficos, nos quais os interlocutores se posicionam com a HUMILDADE dos APRENDIZES em busca da harmonia com outros, na convergência das ideias. O diálogo racional, aliás, é PROCESSO adaptador que leva ao caminho de harmonia e de PAZ, no qual não há melhor nem pior, apenas ideias e posturas a corrigir.

Onde a RAZÃO não ocupa muito espaço, porém, o diálogo é prejudicado e surgem em seu lugar regras irracionais como, “galo em galinheiro estranho deve se comportar como frango”. Ou seja, quando se vai atravessar um rio de barco se deve respeitar (acatar sem questionar) o saber especializado do barqueiro, e numa escola, palestra ou curso, o saber do professor, do palestrante. Neste caso há o incentivo à subserviência ao autoritarismo institucionalizado e à repressão do diálogo democrático e fecundo.

Fácil verificar que, se o barqueiro é incompetente e seu saber insuficiente para proporcionar uma navegação segura aos passageiros, como o personagem da fábula, está na cara que os falecidos médico e professora não deviam respeitar ou acatá-lo, nem mesmo em relação à condução de barcos.

Moral da história: dentro do contexto do diálogo, todo saber deve ser questionado no esforço de se obter compreensão racional e APRENDER, lembrando sempre que fora de seu lugar e hora um dado saber VALE tanto quanto a IGNORÂNCIA, isto é, NADA.

 

Prof. Jorge Melchiades Carvalho Filho

Fundador do NUPEP

Membro da Academia Sorocabana de Letras

Publicado na Folha Nordestina – edição de dezembro - 2011

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