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Ótima oportunidade ao leitor, de conhecer alguns conceitos básicos da teoria freudiana através de uma sintética, interessante e revolucionária versão não materialista. Ao relatar O SONHO que teve com o criador da Psicanálise, o autor vai expondo, de maneira acessível a qualquer pessoa interessada, os passos primordiais para o início de uma ANÁLISE pessoal, que leve em conta os anseios mais PROFUNDOS da alma.

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AH, OS HIPÓCRITAS!

Um camarada, ao passar por um morador de rua drogado, esparramado na calçada, de um grande centro urbano, e todo embostado em meio a uma fétida poça de urina, não consegue conter as lágrimas que, de pronto, afloram em seus olhos e encharcam sua face. Ele desabafa à jovem que caminha ao seu lado:

- Me dói profundamente o coração quando vejo um ser humano nessas condições... Quase nem durmo depois, ao pensar que o governo deste país cria essas desgraças, ao patrocinar o desvio do dinheiro público para os políticos corruptos que, ao arrepio das LEIS, como outros ladrões e criminosos, permanecem IMPUNES... Se eu tivesse o poder, faria o seguinte...

Enquanto o comovido rapaz expõe o que faria se tivesse poder, vai caminhando sem olhar para trás, até desaparecer na multidão.

Também na mesa do bar, de um clube onde ocorre frenética balada, outro sujeito, mais jovem que o primeiro, balança na mão um copo de bebida, e responde a quem lhe indagou por que estuda Medicina:

- Porque, desde criança me comove a miséria do povo, e meu desejo é o de me formar logo, para poder aliviar o sofrimento das pessoas carentes...

É incrível como ainda tem atordoado que CRÊ nesse tipo de “papo idealista” que, normalmente, é parte de uma farsa, pois quem fala pode estar, na mesma hora, dando PROVA evidente que MENTE. Com efeito, observe-se que o sujeito está impondo uma CONDIÇÃO para realizar ato caridoso: a de possuir certa condição privilegiada ou PODER.

E, apesar das PROVAS consistentes de sua regular omissão diante dos sofredores, suas lágrimas podem convencer os tolos, da sinceridade de propósitos. Mas, ele não quer, realmente, AJUDAR NINGUÉM, pois se quisesse já estaria ajudando há muito tempo...

Quem diz que deseja ajudar, mas não faz isso na prática do dia-a-dia, pode comover, mas PROVA apenas que vê no socorro ao próximo, um PREJUÍZO aos interesses, aos quais dedica sua atenção normal. Então, por que fala? Para convencer a si mesmo e a outros otários, que não é um EGOÍSTA que age só em proveito próprio.

O animal não faz caridade... O homem é um animal e, portanto, não carrega o desejo de fazê-la em seus genes. Tal virtude resulta da EDUCAÇÃO de uma MORAL, que cria a compaixão capaz de levar à ação compatível e às lágrimas. Mas estas, sem os atos coerentes, só servem para a teatralização que visa induzir à CRENÇA, de que ali está uma nobre e altruísta pessoa.

Na realidade, essa exibição comovente, da qual já fomos estrela e coadjuvante, atende a uma necessidade direta ou indiretamente instalada pela educação moral judaica cristã. Com efeito, o cristianismo, após a conquista dos romanos, espalhou seus princípios entre os bárbaros e, depois, a todo o mundo ocidental, numa jornada em que triunfou, acima de tudo, por oferecer ao homem a salvação da alma, na prática da moral de amor ao próximo, de perdão e de caridade. A influência milenar de sua moral foi tão marcante que, embora escamoteada tantas vezes, persiste, pois terminou gravada na memória INCONSCIENTE, até de quem se diz avesso a ela...

Por outro lado, a FASCINAÇÃO que o carpinteiro da Galileia exerce sobre as massas até os dias de hoje, desperta a ambição dos que invejam e querem ter seu fascínio, sem conquistar coerência e sinceridade. Daí porque muitos passaram a APARENTAR sua bondade para gozar de prestígio...

Mas, a moral cristã cobra, de quem é privilegiado, o amparo aos mais fracos ou então o preço da CULPA, por falta de caridade. Essa cobrança conduz os homens a serem caridosos ou, simplesmente, à crença de que são “bons” apenas por realizarem ritos INCONSCIENTES, destinados a fazer desaparecer a culpa. Desses ritos psicológicos, o mais comum é o da omissão sob a alegação de que, se pudessem, praticariam a caridade, somada à PROMESSA de que, assim que tiverem PODER a realizarão.

APARENTAR moral ou ética, portanto, para obter e consolidar prestígio virou fato muito comum entre os homens, razão pela qual, poderosos de todos os tempos usaram tal encenação como ferramenta promocional para FASCINAR as massas. Na Idade Média, os reis saíam às ruas uma vez por semana, para distribuir moedas à plebe. Recentemente, um poderoso político prometia camisa aos “descamisados” e, na atualidade, outros ensaiam falsa caridade batizada com outros nomes. Nesta “onda”, muitos indivíduos rotineiramente indiferentes ao paulatino sucateamento da saúde pública sob seus narizes, de repente passaram a visar o prestígio da “bondade” se dizendo condoídos pelos doentes dos mais remotos rincões do país...

 

 

Prof. Jorge Melchiades Carvalho Filho

Publicado na Folha Nordestina – edição de setembro - 2013

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