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Ótima oportunidade ao leitor, de conhecer alguns conceitos básicos da teoria freudiana através de uma sintética, interessante e revolucionária versão não materialista. Ao relatar O SONHO que teve com o criador da Psicanálise, o autor vai expondo, de maneira acessível a qualquer pessoa interessada, os passos primordiais para o início de uma ANÁLISE pessoal, que leve em conta os anseios mais PROFUNDOS da alma.

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Deus existe?

Muitos são os que já têm forte opinião formada sobre essa questão e respondem prontamente: sim; ou não. São os declaradamente religiosos ou ateus. Os sábios de todos os tempos, entretanto, relutariam em apresentar opinião, porque ela normalmente se ampara em sentimento de certeza, de fé; não em fundamentação lógica, racional... A opinião, em geral, não passa de crença adotada para acalmar íntimas angústias relacionadas à vaidade de mostrar saber, que não passa de um desfile de superstições culturais a respeito do “criador do universo”. E a relutância dos sábios procede, ainda mais porque, se a afirmação ou a negação for falsa, o sujeito passa a vida mentindo para si e para outros. Os maiores sábios de nossa história não foram levianos e, para não dar resposta boba, passaram a estudar muito para decifrar o imenso mistério que a pergunta descortina.

Houve aqueles que logo perceberam na indagação, não apenas uma expressão de fé ou de religião, mas sim, uma necessidade humana e racional, de conhecer a realidade, inclusive a própria. E tiveram a rara honestidade intelectual de ficarem com a dúvida, até que pudessem resolvê-la de modo racional. Alguns fizeram como Sócrates e indagaram: “Que tipo de coisa é essa chamada de Deus?” E, sem ligarem aos “sabidos de plantão”-- que acham a tudo saberem responder e ensinar sem responsabilidade com a razão --, passaram a pesquisar, até chegarem a entender como Parmênides, Platão e outros grandes filósofos, que as formas materiais observadas na realidade são meras aparências sensíveis, superficiais e finitas, escondendo a íntima e verdadeira natureza de todo o universo. Esta, segundo eles, seria uma espécie de substrato sutil, ou seja, a causa de tudo o que possui forma sensível e aparente; uma substância que a tudo impregna. Demócrito e Leucipo vislumbraram nela o conjunto infinito de átomos; os cientistas quânticos a identificam no universo subatômico, ora como partículas eletromagnéticas e ora apenas como ondas energéticas. Essa “substância”, não nos enganemos, ainda é desconhecida.

Na busca do autoconhecimento, René Descartes chegou a postular que o homem é formado por duas substâncias essenciais: a do corpo, ou a coisa aparente e material (res extensa), e a da alma (res cogitans), que é pensante. Já Spinoza defendeu que a essência de tudo é uma substância que se expressa na natureza de infinitas formas e modos, sendo o “pensamento” e a “extensão” da matéria os seus atributos.

A metafísica é o pensamento racional elevado ao seu mais alto nível na filosofia e o método lógico nela desenvolvido encaminhou a humanidade às conquistas da ciência atual. Esse pensamento elevado definiu a essência que a tudo cria e mantém, como uma substância necessariamente eterna, ou sem começo nem fim, porque a causa primeira não pode ter sido causada por outra e nem brotar do absurdo nada, já que do nada não sai nada, e coisa existente jamais se transforma em nada.

Quem prefere aprender com sábios e não com os que dão meras opiniões, aprende a não negar a existência de uma substância primordial, básica e geradora de tudo quanto existe, inclusive dotada de pensamento inteligente, tenha ela o nome de Deus, de Natureza ou de aglomerado de bósons de Higgs. Negá-la, só por não gostar do nome que lhe dão é, realmente, precipitada declaração de quem não encontra pensamento inteligente em si, e o busca na opinião alheia...

Assim, aos que vão além das meras opiniões, ainda resta responder outras questões que a resposta dada à primeira suscitou: 1.1 – Seria Deus uma substância mista, múltipla ou dual, contendo a coisa material, atômica, energética, quântica e a coisa pensante? 1.2 – Seria Deus uma substância fundamental que expressa na criação, os seus atributos da materialidade e de pensamento? 1.3 – Devemos considerar Deus uma substância primordial que só é matéria e, portanto, completamente tapada ou burra? O pensamento sairia, então, de coisa que não o tem nem em potência? Sairia do absurdo nada? 1.4 – Ou seria Deus uma grande alma, uma substância que é puro pensamento, de tal modo que suas criaturas vivem tudo somente em Sua imaginação? Neste caso, toda matéria não seria apenas ilusão? Afinal, quanto mais a ciência se aproxima de seu cerne, mais ela se desvanece no louco redemoinho das energias sutis que de vez em quando se comportam como partículas virtuais!

Evidente que, todos somos livres para, de modo insensato, escolher uma resposta que nos parece a mais simpática e a adotarmos como opinião. Eu, contudo, respeito muito o leitor e, por isso, proponho textos dos quais analfabetos funcionais fogem, por considerá-los muito complexos e difíceis. Por vingança também não escrevo para eles, pois costumo sugerir que diante de questões como as aqui enunciadas, se faça sempre uma consulta aprofundada ao pensamento racional, venha este da alma ou de qualquer outro lugar que não seja intestinal.

 

Prof. Jorge Melchiades Carvalho Filho

Fundador do NUPEP

Membro da Academia Sorocabana de Letras

Publicado na Folha Nordestina – edição de fevereiro - 2014

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